12.06.2008

On / Off

Gastamos imensa energia à procura de soluções analíticas que são extremamente perfeitas, mas só nos permitem resolver problemas ideais.
Naquela aula em que o Prof. Feyo comparou os métodos numéricos e a vida. Soluções tão próximas quanto possível da realidade e que no fundo nos abrem um mundo novo de possibilidades.
É bom ir fundo, bem fundo, é bom afogarmo-nos, sentir o chão nos pés e duvidar que consigamos algum dia voltar à tona. E é bom reerguermo-nos! A luz e as trevas… a insustentável leveza do ser… quando pesar, quando ser leve… Quando desistir de procurar a perfeição… Ou descobrir a perfeição em coisas que nem entendíamos.
Somos todos Fernandos Pessoas carregados de heterónimos. Temos, se somos interessantes, milhares de pessoas a combater por um lugar em nós. Temos os passivos, os activos, os errados, os fúteis, os macabros, os simples, os rebuscados… no final, somos o nosso homónimo. Quando estamos em nós nem sequer reconhecemos os Caeiros, os Ricardos Reis, os Álvaros de Campos, se calhar porque nem sequer os conhecemos de facto porque estávamos demasiado ocupados a sê-los para que os pudéssemos conhecer.
Somos extremamente complexos. Esforçamo-nos para nos simplificar, esforçamo-nos para nos complicar, para descobrir as coisas reais, para discernir o que é e o que não é verdadeiro… e tudo é verdadeiro! São verdadeiras as balizas e as barreiras que nos impomos, são verdadeiras as fugas, são verdadeiros os erros, é verdadeiro amar doentiamente, é verdadeiro amar saudavelmente, é verdadeiro falarmos com Deus mesmo sendo ateus ou falarmos com os nossos heterónimos, monólogos talvez porque só somos um de cada vez ou estamos por vezes todos ao mesmo tempo a baralhar-nos, a dividir-nos, a confundir-nos…
Queremos linhas rectas, equações com soluções únicas. Queremos resultados sem bandas de erro. Queremos soluções analíticas… Ou não! Ou queremos continuar a ajustar modelos, cada vez mais próximos, cada vez mais perfeitos… O óptimo global está no espaço que percorremos para nos aproximarmos dele. Está nas vezes que nos perdemos sem chegar ao nosso destino e nas paisagens que vimos pelo caminho.
O óptimo global está em pensar em ti sem medo. Está em reconstruir os alicerces tantas vezes quantas as necessárias, está em ter vontade de o fazer.
Em perder-me, em encontrar-me, em enganar-me, em cair em muitos mínimos locais, mudar de estratégia, mudar as estimativas iniciais, mudar os parâmetros, as equações…
Divagar…
Não há conclusões nem morais da história. Há a história. Há estar aqui, agora, alterem-se o quanto se alterarem os referenciais. Há estar aqui, agora, contigo ou sem ti. Numa noite sem fim ou numa madrugada. Somos o nosso homónimo. A dor ou a alegria de deixar acontecer… ou a coragem ou a obstinação de fazer acontecer. Todos os pontos de vista, todas as cores…
Contigo ou sem ti, amar-te sem medo, sem medo, sem medo!

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