11.26.2008

Sour

Apetecia-me tanto dizer coisas positivas… coisas boas!
Tanta coisa boa na minha vida!
Tão bom o jantarinho de ontem!
E o filme! E as filosofias acerca disso! Tão bom filosofar gratuitamente!
Tão fofinho, o meu namorado e as suas ideias que me fazem feliz!
As histórias e o humor do meu irmão! Ri-me tanto!!!
O Natal tão perto! E os livrinhos, as prendinhas feitas à mão, a casa cheia de tralha natalícia, uma árvore por montar…
Amigos para o fim-de-semana…
Tem estado sol e tudo!
Caraças… a minha vida é quase perfeita!!!

E esta angústia… esta estupidez desta angústia! Só consigo pensar nisto, só consigo falar nisto… cada vez mais amarga, mais amarga, mais amarga!!! Seria bom pensar que se o trabalho é o que mais me angustia, é porque sou uma privilegiada! É porque tenho uma boa vida e gosto das pessoas e há pessoas que gostam de mim… Não dá!
Neste momento só consigo pensar que esta foi a pior opção que fiz em toda a minha vida… Que isto me fez regredir muitos anos… que isto me tornou mais burra, mais amarga (acima de tudo muito mais amarga) … que isto me fez perder muito tempo e só me ensinou aquelas coisas que ninguém deveria nunca aprender… que a sobrevivência implica sofrer sem sentido, que há coisas que nunca vamos entender e pior (muito muito pior), que desistimos de tentar, de tentar entender ou mudar o mundo muito muito antes do que nos ensinaram… que nos rendemos às evidências e nos vendemos como prostitutas por muito menos do que nos fizeram valer… que isto não vale nada e que ninguém se respeita… não vale nada de nada de nada! Que somos cínicos e hipócritas como não gostaríamos de ser… e que não podemos fazer nada contra isso! Que teria saído muito mais barato ao Estado pagar-me o mesmo para eu ficar sentada em casa… teria poupado em reagentes, em energia, em instalações de merda, em tudo… Que eu faço parte dos que gastam e não produzem… e ainda por cima não me divirto com isso!!!
Enfim… quando isto acabar vou ficar aliviada e vou ter principalmente muita pena desta opção tão errada que tomei… Porque queria dar aulas… que ridículo!!! Quanta ingenuidade! Quanta burrice! Devo ter sido a única pessoa que seguiu o mesmo caminho e que nunca o fez!!! E no fim de tudo… vou para a indústria!!! Quanta ironia! Quanta quanta ironia!!! É para aprender quem manda aqui! É para aprender que na nossa vida, não dominamos nada! Quando isto tudo acabar, não vou ter orgulho nenhum, nem aquela sensação gratificante de um trabalho bem feito… vou ter pena… vou gastar o que restar das energias para tentar conduzir a memória para o melhor possível… ou para esquecer, simplesmente esquecer estes anos todos tão mal aproveitados… tão estupidamente investidos…
Enfim… só espero que um dia isto acabe mesmo… para pelo menos poder aproveitar alguma coisa disto… paga em dinheiro, como as prostitutas… como isto sempre foi para mim… uma forma de ganhar dinheiro… tão puta como todas as putas, só que mais preocupada em enganar-me… (um suspiro muito longo) Não consigo calar-me, não consigo fazer de conta que não me dói, não consigo deixar de gritar… eu quero dizer coisas boas, eu quero pensar e sentir coisas boas… coisas muito boas…
Vai passar… está quase a acabar… e nunca mais vai voltar… nunca mais… nunca nunca mais…

5 comments:

  1. Se não tivesses tomado a decisão de tirar o doutoramento não nos teriamos conhecido. Já não podias dizer "Tão fofinho, o meu namorado e as suas ideias que me fazem feliz!". Pelo menos não dessa maneira.
    beijinhos!

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  2. :D
    És uma coisinha muito linda!!!
    Ter-nos-íamos conhecido de qualquer maneira... a entidade reguladora do Universo pode falhar em muitas coisas, mas não permitiria uma calamidade tão grande como não nos conhecermos!!! :D
    Beijos beijos beijos!!!

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  3. pois
    eu até que ia escrever qualquer coisa, mas melhor que o post do brito não consigo.
    Portanto vai lá à tua vida e não culpes o Cosmos. Daqui a uns anos ainda vais dizer:
    "Eh lá, fogo, ainda bem que perdi aqueles 5 anos a fazer o doutoramento... Aqueles Mike e Brito sempre a dizer que não serviu para nada... eu sempre disse que servia...eu fui sempre a favor...Eles é que não... 'Tão a ver como eu é que tinha razão? Está aqui a prova!"

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  4. Adorei este teu post porque quando pensamos até onde vamos por dinheiro... o dinheiro move os indivíduos e toda a sociedade. Neste momento, chego mesmo a pensar que é a força motriz de toda a nossa existência. Sem dinheiro não temos nada, não há saúde, não há amor...e escrevo que não há amor porque este começa em nós próprios e, sentimo-nos bem quando realizados, bem alimentados e bem vestidos. Porque não há sentimento digno que se possa sobrepor à fome, ao frio e à carência.

    Será que choca esta forma de ver o mundo?

    Penso que todos, mais tarde ou mais cedo, chegamos à conclusão que por dinheiro fazemos coisas que o nosso orgulho e sentido de moral juvenil de certo reprovaria...em que momento deixamos de ser jovens? Talvez quando o mundo material se sobrepôs aos nossos sonhos...teremos passado por esse instante sem nos apercebermos...

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  5. Boa, Sofia! Muito boa! Talvez não seja tanto assim, mas tem muito de verdade o que dizes...
    "não há sentimento digno que se possa sobrepor à fome, ao frio e à carência"
    Muito bom!!!
    Muitas dissertações para além disto, mas agora vou parar por aqui!
    Beijinho

    Beijinhos para ti também, Mike! Não me parece que isto venha a servir de grande coisa... e tenho dúvidas se irá algum dia acabar, mas... não culpo o Cosmos! Até porque, no que diz respeito às "dádivas do Cosmos", tenho muito mais a agradecer do que a culpar...

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